“Em dia de Bailado, os Beginners apresentaram a melhor Coreografia”
No passado dia 13, ao contrário do que é habitual no Slot Clube do Porto, quinta-feira foi dia de campeonato. As provas costumam realizar-se à sexta-feira, mas esta semana “calhava” no dia 14, ou seja, dia dos namorados, razão pela qual a prova foi antecipada. Apesar de conduzirem máquinas a mais de 300 Km/h, os corajosos pilotos que disputam este campeonato de endurance, no que toca à sua cara-metade preferem jogar pelo seguro e a “calha” 14 em Fevereiro não é dia para corridas.
O Circuito Adérito Varejão esperava pela entrada das máquinas. As máquinas são a alma de uma pista, são o bater do seu coração, fazendo lembrar o sistema circulatório de um complexo organismo, onde cada calha faz lembrar uma artéria que percorre um traçado sinuoso, percorrido volta a volta pela vontade, perícia e desejo de vencer de cada um dos pilotos, onde o coração bate mais rápido, onde o “bombar” do dedo mais preciso alcança a vitória…
A Organização ofereceu-me a oportunidade de participar nesta prova, a última prova do Campeonato de Clássicos SCP em duplas. A tarefa apresentava-se complicada, pois a prova é disputada por equipas de dois elementos, onde cada elemento percorre 4 calhas, num total de oito calhas por equipa durante 80 minutos. A pulsação subiu, o ritmo cardíaco apresentava-se algo irregular, todo o cenário de repente mudou e a minha atenção centrou-se na pista. O meu papel de espectador rapidamente se alterou e vi-me prestes a partilhar a pista com mais 14 pilotos, muito experientes e conhecedores das suas máquinas e da excelente pista do SCP.
Apesar de já conhecer o circuito, questionava-me sobre que máquina me seria entregue, pois o circuito é o mesmo, mas uma corrida é uma simbiose entre máquina, piloto e traçado, onde estes três elementos se fundem criando um espetáculo único. Luís Faria rapidamente se deslocou à sua boxe e apresentou-me a máquina, um impressionante Porsche 917K com forte sentido patriótico numa decoração alusiva às cores da bandeira nacional. Foi numa máquina semelhante que em 1970, Hans Herrmann e Richard Attwood conquistaram a primeira vitória à geral nas 24 horas de Le Mans para a Porsche. Não foi no dia 13 de Fevereiro, mas sim em 13 e 14 de Junho de 1970 que a Porsche subiu ao mais alto lugar do pódio em Le Mans. O famoso número 23, a versão K (Kurzheck), que significa “cauda-curta” conquistou assim um lugar especial na história do automobilismo, tendo também sido imortalizado no cinema por Steve McQueen no filme “Le Mans” de 1971.
Rapidamente “vesti” o meu equipamento NSR de competição, engrenei a DS e observei a longa reta da meta do interior do cockpit do meu 917K. O barulho era ensurdecedor, ao meu lado na calha 2 estava Rui Queirós da Vintage Slot Team, Filipe Morais da Atlantic Racing na calha 3, seguindo-se Pedro Figueiredo da Mafi Racing (calha 4), Varejão da DeepRock Racing (5), Alfredo Pereira da BA Racing (6), Luís Teixeira da Kotta’s Racing (7) e Márcio Teixeira dos Absolute Beginners ocupava a calha 8.
O motor NSR Shark capaz de atingir as 20000 rotações por minuto, inundava todo o cockpit, a máquina está viva! Os meus sentidos estavam inebriados, apenas a minha audição resistia a tantos decibéis e esperava ansiosamente pelo tiro de partida. A partida é dada e as máquinas devoram metro atrás de metro, abrandando apenas nas curvas, onde se ouvem as travagens, as reduções na aproximação à curva e os bólides apontados ao ápex, desenvolvem uma complicada coreografia digna de um “Lago dos Cisnes”, embora me faça lembrar mais um ”Quebra Nozes”, pois em cada travagem era preciso ter as “nozes” no sítio…
Ainda surpreendido pela potência deste 917 K, percorro o circuito a alta velocidade, a competição é renhida e a consciência apela à moderação, mas a máquina apodera-se de mim… Á semelhança do Dr. Jekyll, vejo surgir em mim um Mr. Hyde, ou melhor dizendo um Stig, uma nova personalidade contagiada pela velocidade, adrenalina e pelo desejo de conquistar calha após calha, lutando contra o relógio na tentativa de uma união perfeita com a máquina.
Os primeiros dez minutos de prova desenrolaram-se rapidamente tendo Márcio Teixeira dos Absolute Begginers terminado em 1º lugar com 63 voltas, seguido do seu pai Luís Teixeira da Kotta´s Racing, que com 62 voltas demonstrava a sua intenção de atacar o pódio e quem sabe destronar o seu filho Márcio. Está identificada a origem do gene FT (Fast Trigger – gatilho rápido).
Em terceiro lugar Pedro Figueiredo da Mafi Racing que com 60 voltas, demonstrava que o Ford P68 podia competir com alguma sorte de igual para igual com os Porsche que nitidamente em maioria na grelha de partida, apresentam um currículo desportivo invejável, enquanto o Ford 3L GT ou P68, apesar do seu aspeto arrojado colecionou na sua breve história desportiva uma série de DNS (Did Not Start) e DNF (Did Not Finish), ou seja, ou não começavam ou não terminavam por problemas diversos. O único resultado de relevo obtido foi em 1968 nos 1000 km de Spa, onde conquistou a pole-position. Apenas dois destes modelos se apresentaram à partida, as equipas Mafi Racing e a BA Racing ambicionavam mudar a história do Ford P68.
A dança das calhas ainda mal tinha começado, faltavam ainda 70 minutos para o cair da bandeira de xadrez. A concentração é essencial numa prova de endurance, assim como conseguir um equilíbrio entre velocidade e desgaste dos componentes mecânicos. O tempo de prova tem os seus efeitos nas máquinas e nos pilotos, tendo observado várias saídas de pista e problemas mecânicos. Apesar de a pressão ser menor, pois não estava a lutar pelo campeonato, nem por uma posição nos lugares cimeiros, não consegui evitar algumas saídas, felizmente sem consequências.
Os Absolute Beginners de Márcio Teixeira e Luís Faria demonstrou um domínio completo em quase todas as calhas, apenas a DeepRock Racing na calha 6 e a Vintage Slot Team na calha 7 conseguiram cumprir o mesmo número de voltas. Um impressionante Luís Teixeira, conseguiu mesmo superar Márcio Teixeira, conquistando a calha 7 para a Kottas Racing.
Os momentos finais foram particularmente emocionantes, as máquinas e os pilotos testavam o limite da resistência… Jorge Lima da Atlantic Slot Racing, evidenciava alguma ansiedade, enquanto Adérito Varejão lutava para levar o Porsche até ao final. O Porsche de Adérito, de acordo com as palavras de Lima ouvidas no intercomunicador, parecia “bufar” não como um gato, mas sim como dois! O 917k de Adérito “bufava”, defendendo o seu território, cada volta, cada metro conquistado e que agora ameaçava ser perdido… À semelhança dos gatos, estas máquinas são animais solitários e extremamente territoriais, o Porsche de Adérito e Lino Marão (DeepRock Racing) não é excepção.
A prova terminou com a vitória dos Absolute Beginners, Adérito Varejão conseguiu lidar com todos os problemas mecânicos e levar a sua equipa ao segundo lugar e especial destaque para Luís Teixeira e Manuel Loureiro que demonstraram que os KoTTa$ também tem lugar no pódio. Os Kotta$ ficaram a apenas duas voltas da DeepRock, o que demonstra que tem potencial para subir mais um degrau!
O Campeonato de Clássicos NSR em duplas chegou assim ao seu fim. Ao longo de 6 provas, pilotos e máquinas foram testados ao limite, os reis da resistência foram Márcio Teixeira e Luis Faria (Absolute Beginners), no 2º lugar a DeepRock Racing e em 3º a Atlantic Slot Racing.
Antes do fim da noite, houve ainda tempo para uma exibição de um modelo de Slot movido a oxigénio, ou será melhor dizer, movido a dióxido de carbono. Um “velho conhecido” destas andanças, trouxe até nós o último grito da tecnologia aplicada a um carro de Slot e, mais uma vez a pista do Slot Clube do Porto foi o palco de mais uma apresentação mundial.
No final ainda teve lugar um salutar convívio, onde o champanhe foi de todos e não apenas dos vencedores, o motivo foi a comemoração do aniversário de Adérito Varejão que nos presenteou a todos com um belo bolo de chocolate e um caloroso brinde que encerrou assim mais uma fantástica noite no nº 202 da Rua Duque de Loulé.
CLASSIFICAÇÃO FINAL :
| POS | Piloto | Voltas |
| 1 | Absolute Beginners | 491,20 |
| 2 | DeepRock Racing | 476,32 |
| 3 | Kotta’s Racing | 474,11 |
| 4 | Vintage Slot Team | 471,49 |
| 5 | Atlantic Slot Racing | 466,25 |
| 6 | MAFI Racing | 460,10 |
| 7 | BA Racing | 439,51 |
